quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ir embora

Sinto ás vezes uma irremediável vontade de ir embora. Deixar pra trás roupas, fotos e pessoas e começar tudo do zero. "Mas como, diriam alguns, deixar as pessoas que você ama? E os filhos, mãe ingrata?"

Digamos que esse ir embora seja um perder a memória, apagar da sua cabeça um tanto de coisas que fez e viveu e permitir-se começar dum quase zero. Outro lugar. Outros móveis. Outras roupas. Um outro corpo, talvez ( de preferencia mais magrinho, certo?) .

Li, no podcast do Mainardi "Assim como um crente dispensa argumentos terrenos para acreditar em Deus, eu também dispenso argumentos para acreditar na necessidade de ir embora. Ir embora é meu valor supremo, absoluto. Migrar é minha única fé. Sou uma espécie de padre Anchieta dos migrantes: tento converter o gentio a tapar as vergonhas, fazer as malas e ir embora. Em se tratando de brasileiros e brasileiras, essa é invariavelmente a parte mais difícil: tapar as vergonhas. Adeus."

Reiventar-me num outro circuito espaço-tempo?

Quero ir embora.